E agora?
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E agora?

Imagem: Diário de Santo Tirso

As últimas eleições legislativas foram marcadas por uma alteração do panorama político em Portugal. Depois de quatro anos de estabilidade de um acordo escrito entre o Partido Socialista (PS) e os partidos à esquerda (BE e CDU) e de dois anos de acordos pontuais, o PS decidiu ensaiar uma crise política para tentar a maioria absoluta e assim se livrar dos “empecilhos” à esquerda. Esta maioria absoluta foi alcançada reduzindo, para níveis históricos, a representação dos partidos à esquerda. O Bloco é o partido mais penalizado pela dinâmica do “voto útil”, na medida em que partia de um patamar mais elevado que a CDU. A análise da evolução eleitoral nos diversos distritos demonstra uma equivalência muito precisa entre o número de votos perdidos por Bloco e CDU e o crescimento do PS.

Um número infindável de explicações foram já lançadas. Desde a influência das sondagens, ao medo da extrema-direita da qual a restante direita não se conseguiu demarcar ou o facto do Bloco e CDU não terem conseguido reinvindicar para si conquistas importantes dos últimos anos. Assistimos a algumas demissões de direções de partido e outras tantas têm sido pedidas em praça pública. Mas o que realmente importa neste momento é discutir o que fazer a partir daqui. Qual será o discurso da esquerda e o que poderá oferecer ao país? Com um parlamento em que a presença da extrema-direita é maior, em que temas uma direita mais radicalizada e com uma maioria do PS é necessário repensar o nosso discurso e a nossa ação.

Assistimos nesta campanha, a uma discussão ideológica – quase sempre disfarçada de uma não ideologia por parte da direita – sobre serviços públicos, impostos e emprego, no geral sobre uma proposta de um modelo de sociedade. Assistimos também a uma grande perda de base eleitoral do Bloco que são os mais jovens, onde o Bloco vai tipicamente recolher mais votos. Esta perda de eleitorado não é preocupante apenas pela perda do seu voto nestas eleições em específico mas sim pelo aprofundamento de uma hegemonia de pensamento e modelo de sociedade que o liberalismo, também presente no PS, está a conseguir colocar na agenda, principalmente nestas gerações. Nas gerações que não viveram as lutas do 25 de abril, que não ajudaram a erguer os serviços públicos e, mais importante, que vivem um mundo do trabalho que já mudou. Com esta ausência total de referências históricas, o debate ideológico não se vai ganhar apenas evocando este passado ou estas lutas mas disputando no campo das ideias, com argumentos fortes e incorporado sempre numa proposta abrangente para a sociedade. Exemplos destes temas terão de ser as pensões, não só de quem já as recebe, mas que modelo queremos para quem a irá receber no futuro. Outro exemplo é o SNS, em que um discurso abertamente ideológico na defesa de um serviço público pode perder tração se não for alicercado a outros argumentos mais práticos. O Bloco precisa de mostrar a estes jovens qual o modelo de sociedade que propõe. De perceber as novas lutas e as novas formas de trabalho que estão em acelerado movimento.

O voto no PS foi tido por muitos como o mal menor daquilo que nos poderia esperar. Mas ninguém tem ilusões sobre o que significa o PS governar sozinho, principalmente com uma maioria absoluta. A luta do Bloco nos próximos temos tem de ser bastante clara. Centrando a nossa ação no trabalho e na redução da desigualdade, denunciaremos estas formas “moderninhas” de emprego que tem atirado a minha geração para a incerteza e precariedade, sem conseguir planear o futuro. Lutaremos por melhores condições de vida que passa, obrigatoriamente, por salários mais altos e por uma melhor conciliação entre vida pessoal e profissional. Seremos das poucas vozes a alertar para o urgente combate às alterações climáticas. Reinvindicaremos uma educação melhor que permita ao país crescer. Por fim, seremos a voz que denunciará a corrupção e a subserviência ao sistema económico. Seremos resistência e seremos alternativa. Espero que nos próximos quatro anos consigamos apresentar o modelo de sociedade que propomos, aos mais jovens e não só. Temos a oportunidade e responsabilidade de mostrar o projeto alternativo do Bloco de Esquerda e, também importante, que é um projeto autónomo.

Ana Isabel Silva

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